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Ac​ú​leo

by Acúleo

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1.
- intro Que quimera é, então, o homem, Pascal? E a mulher? Que perversa, cruel, caótica, que prodigiosa! Juíza de todos os temas e não temas, lombriga substituta, reservatório da verdade e da inocência, fossa de incerteza e do erro, da glória e da escória do planeta. - quimera Dormias no casebre junto da Bellevue onde loucos te protegeram das invasões e crises dos servos. Trouxeram-te. Para outro microcosmo. Cobriram-te num manto de cores mais quentes, fluidas que as da Guerra de Assad povoada por ogros cinzentos igualmente pérfidos. Nua, à janela, assistias àquele ribombar de armas de fogo despedindo-te da tredice como quem despia a farda na troca do boleto. O mundo ficou estranho os servos indolentes as jornas nem para a cerveja pelas cortinas ninguém se conhecia Na querela, noite dentro, ganiam a marcha para diante habitava do lado de cá. Ordenaste a bagagem sabias já, apesar de tudo que nos casebres europeus a vida reiniciava finalmente ao lado de outros combates. Bem-vinda.
2.
No Future No Future No Future Ordem na casa Desordem nos céus. Manietar o mal altruísta em nome da paixão sem religião. Ter o acúleo da violência cravado na garganta. Vocábulos bombistas no punho, como o poder na ponta dos dedos de uns pés que dançam, e transcendem, o léxico da idolatria. No Future No Future No Future Leituras a mais visões de menos Tudo para regressar lambendo o ninho de cucos de onde jamais deveríamos ter saído.
3.
Primeira Segunda Terceira Infância… Ao experimentar vestir a forra duma saia esquecida reabre-se o espículo escorpiónico da terceira infância. Trôpega. Primeira Segunda Terceira Infância... A sintaxe das figuras tropeça, descortina ilógica, sobre o abandono da virgindade. Por aqui se vê todos os fantasmas no rosto e na terra dos outros. Debaixo da ponte, corro. Chegada à terra molhada, sofro. Frente a um tempo sem recheio devolvo a pele, os ossos, a carne fresca, um saco cheio. Sigo. Numa autocaravana. No fim do dia. Entro pelo campo respirando estrume ao pasto abandonado. Memórias por criar junto ao casarão. Devolvo gargalhada, o ímpeto, o coração. Sossego. Uma cama nova. Fugindo aos poucos do corpo entre degraus que escapam dos pés. Há fontes novas. Novas velhas a vigiar o meu futuro.
4.
Arapuca de bambu Cutucada no melro. Compus no seguimento de uma frase musical laços cínicos desejados pela forma. Da mesma forma de sempre. O cinismo começa a ser, de resto, a par da memória e da inteligência artificial, a melhor faculdade humana deste século. A melhor. A pior talvez seja o excesso de pudor. No princípio eram símbolos e ética. No fim era autonomia (direitos e escolha). Os rituais deram lugar ao destino. O sagrado deu lugar ao profano. As orações deram lugar aos narcóticos. A crença deu lugar à medicina. O debate deu lugar ao cancelamento. O confronto deu lugar à culpa. Resta o desconforto e um divã eutímico.
5.
osga 03:16
A constância duma osga fez-me melhor criatura. Sem mordeduras, amarguras, preparados químicos. Até os mais-que-humanos espaçados no lodo se salvaram. Neste momento, creio pouco em humanos de que o ódio, e apenas ele, se alimenta para o desaforo, firmeza de intenção, rebeldaria. Para esses: biokill…
6.
natrix 03:53
Cobra-de-água-viperina a nadar irrepreensivelmente quando me avista, a hibernar quando pressente víboras. Contemplando-a tão minúscula, tão peremptória, com olhos de pupilas redondas. Estarrecendo-me com as víboras de caudas simuladas, pupila vertical, a corromper desde querubins. Agora, os demónios aparecem quando menos se espera. O caule da videira a endurecer por não se sulfatar depois de ires embora. Estranheza a dele, ou medo, de criar raízes desavindas, afastadas por nós, entrenós. Entretanto cresceram acúleos. Mamíferos ou insectos chegam perto. Só umas castas rombudas a espiarem-te, raposices... Largaram a cidade na província sem distinguir vinho de corte do de martelo. O asilo nestas alturas é um alpendre. As pulgas dos morcegos são a melhor companhia. Talvez por isso não tema parasitas nem bactérias não como vos temo: sem-cerimónias. É-me familiar tal expatriação do leito, e em qualquer barracão todos os músculos, e ossos, confabulam: especialmente os do crânio.
7.
Melhor ser insuspeita que amada. Melhor ser insuspeita que amada. Quimeras secam alvéolos quando abelhas param de zumbir. Já a elegância alonga a biografia e as formas... O corpo é e não é incólume aos zunidos tão pecos e pegajosos como o mel. Um fiasco afundado no crepúsculo da serra, patos a trinar com fastio, anjos empedrados abandonados à sorte num qualquer jardim. Em todos os nossos lugares tacteamos movimentos perpétuos. Não esquecemos de petrechar as máculas no lago, de comparar o ritmo do coração com o do vício. De enfrentar um perigo comum às vidas de todas as espécies reflectindo-o num horizonte algo difuso.
8.
Mondego 02:10
A primeira casa era minúscula de lá jungimos previsões o futuro não teria lareira só um corredor escarpado longo, intransitável. Tomavas conta do lar entrópico tentavas ajeitar a janela de guilhotina quando até ela perdera o caixilho inferior e da chaminé um ventilador tosco exorava 'no future' como no punk. Refreei de um embate, em tropel, quando os esboços conjuntos ficaram suspensos, na assincronia, daquela noosfera bueira, espécie de poço prenhe de arrrrr à deriva presença abismal um desapego transido em fuga sem par rumo a nova morada.
9.
corpo finito 02:56
Lá vai elaaa abrir e cavar a terra... Andando pelo asfalto onde se fabricam novos encartes: folhas unguladas, para sulcar os últimos livros de cabeceira. Ou to no. Como explicar aos bobos que ao mitigarmos o medo da morte nadamos entre trovões e disputas? Como explicar aos bobos que voamos longe de pistas deixadas ao destino. Sem jaulas, nem gaiolas. Livres. Como explicar à manha que ao abrandarmos da turba onde nos fizeram gente pouco robusta ficaremos entregues às fraquezas improfícuas. Lá vai elaaa abrir e cavar a terra... Entregamos a verdade à vida, incerta, como ela é: uma borda revirada pelas lembranças. E que se sairmos do nosso corpo, nos afastarmos, se nos dividirmos for possibilidade, absoluta, esperamos estar habilitadas cotejar avejões, fés obscuras, espíritas, fatuidades destes corpos belos emersos na nossa para outra história.

about

Uma criação de Soraia Simões de Andrade (texto e interpretação) e João Diogo Zagalo (música) | EP com uma parte do repertório da performance ao vivo em áudio.

instagram.com/aculeospokenword
facebook.com/aaculeospokenword

credits

released November 28, 2022

texto e interpretação – Soraia Simões de Andrade
Música - João Diogo Zagalo

Fernando Ramalho – guitarra (#3, #5, #6, #7), harpa (#4);
Gonçalo Zagalo – baixo (#3, #4, #5, #6, #7), Moog (#2, #7), percussão (#4, #6);
João Diogo Zagalo – guitarras eléctricas e acústicas (todos os temas, excepto #2 e #4), percussões (todos os temas), piano (#6), baixo (#1, #8, #9), mini MK3 (#1, #2, #3. #9), cavaquinho (#4), 2.ª voz (#5), coros (#8).

Mistura e produção – Fernando Ramalho
Masterização – Gonçalo Zagalo
Captação voz Soraia Simões de Andrade – Paulo Lourenço
Fotografia capa álbum – Leonor Nobre Alves
Design gráfico álbum – Alexandre Nobre


Agradecimentos – Ar de Estúdio, Elagabal Aurelius Kaiser, Catarina Torres, Ermelinda dos Santos Carvalho de Andrade, Jonathan Sacks, Leonor Nobre Alves, Fernando Paulo Simões de Andrade, Luís Peres, Marta Domingos, Marta Reis, Orlando Farya, Paula Vale Marques, Sandra Baptista, Xana.

© 2022 Dezembro. Edição AH!, colectivo associação Mural Sonoro.

Reproduzido na speedmedia

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Acúleo Lisbon, Portugal

Que quimera é, então, o homem? E a mulher?
Que perversa, cruel, caótica, que prodigiosa!
Juíza de todos os temas e não temas,
lombriga substituta,
reservatório da verdade e da inocência,
fossa de incerteza e do erro,
da glória e da escória do planeta...
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